quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O POEMA DO MEU IRMÃO VEM PRA ABRILHANTAR O TIJOLO

Poema feito pelo Meu Irmão para Minha Mãe.

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Mãe,
Mãe e seus amores.
O Cristo, a Nena, o Rio e seus enfantes.

Mãe,
Mãe e seus amores.
A praia, o Chico, o azul do céu,
O filho querido com olhos de mel.
A casa arrumada, o coco do Irineu,
O filho caçula com amigos que falam ´meu´.

Mãe,
Mãe e seus amores,
A música sem voz, a TV é atroz,
Direitos que teus, são teus e tão teus.
A opinião que não cala, não para e rende.

Mãe,
Mãe e seus amores.
A cumplicidade, o carinho, com o fim do matrimônio.
A família reunida após a despedida.
O Artigiano, andar de bicicleta aos 40 – graus do Rio.
A ginástica, o alongamento em caldas de chocolate.

Mãe,
Mãe e seus amores.
O coração tricolor de bom senso rubro-negro,
A cara do Rio, vestindo arquibancada, venceu.
O pudim, o neon, Zona Sul, esbaldante,
A cultura, o museu, filmes tortos, literatura.

Mãe,
Mãe e seus amores.
O Paco. Farejou o amor que achara
ter perdido
O medo que te brindo e espero ter vencido.

Mãe,
Mãe e seus amores.
Sua gema carioca é clara.
Inimiga da beleza que a pele te estampa.
A embriaguez de risos em uma taça de alegria.

Mãe,
Mãe e seus amores.
Brinde singelo: Há motivo.

3 comentários:

Madre disse...

Dô, como disse para o Lilinho, ser brindada com este belíssimo poema! Nada melhor para começar o ano nove - ímpar, de fato. Especialmente pela emoção - sem palavras - de ser descrita tão bem. Linho, com sensibilidade do olhar maduro e percepção aguçada, sabe tudo da "Mãe. Mãe e seus amores". E você, também. Das entranhas que se escancaram diante de "seus amores". Digo, sempre, que há 2 certezas em mim: ser carioca e ser mãe. Me atrevo a dizer que só sei ser mãe. Com altos e baixos, acertos e erros, me exponho ao avesso do amor incondicional. E, ainda assim, sou brindada com filhos maravilhosos. Amores meus."Brinde singelo: Há motivo."

Madre disse...

Filho, agradeço ser homenageada no Tijolo, além do Tinta, do Lin. E, especialmente, por terem me permitido experimentar a melhor sensação do mundo: ser mãe. E faço das palavras de Elisa Lucinda as minhas. Poema de inspiração única.

Consagração da Criatura
A Juliano

Filho..., igualzinho à minha poesia
você nunca foi meu órgão
A arte é constante e me habita à hora que ela quer
e à hora que eu deixo
Mas não me existe combinada, não há contratos nem despejos
você tem intimidade com meus interiores
com meus departamentos
Você é um argumento contra mim e a meu favor
Me trai porque conhece meu avesso
Me enobrece porque me tornou poderosa
Capaz de prosseguir com essa invenção chamada humanidade
Você é a barbaridade de ter feito a minha barriga crescer
Meu corpo zunir, abrir, escancarar pra você sair
de onde eu nunca pus sequer os pés, as mãos
da casa em que vivo e habito sem nunca ter entrado
porque moro fora de mim.
O que faz de seu édipo eficiência
e de seu abuso, cultura
é essa estrutura feita de mim
sem que eu tenha em ti o mesmo acesso
Por isso a criatura é mais que o criador
e você que saiu por onde entrou

Como ocorre com o poema
tem seu passaporte carimbado para todos os estados
de minha alma, de meu espírito
Você que é onírico, sábio vassalo
Me tiraniza e perde a fala, o fôlego, o faro
Me organiza e ganha o futuro
e ainda segura o jogo duro de viver independente de minha respiração
Espião de meus bastidores
Olhou minhas entranhas enquanto virava ser humano
quieto dentro de mim como as palavras antes de serem poesia
Mas fui apenas uma pensão, uma besteira
ou um hotel cinco estrelas
ou um amniótico colchão.
Hoje saído dessa embalagem, me olhas como miragem
de parecer tão próprio, tão seu
Me olhas como árvore
ziguezagueia e olha para o que fui: passageira semente.
Me olha como gente que já me viu por dentro
vasculhou meu plasma, minhas gavetas
me deixou pasma, coroou minha buceta
e sabe meu segredo
Me olha elegante e vestido
e se sente despido ao saber que o olho de minha coxia
também te viu virar varão.
Deixar de ser óvulo, indefinição, projeto, embrião
e haverá sempre um leite materno
escorrendo pelo seu terno
como mirra, bênção, distração
como birra, alimento, maldição
maior que mim, melhor que mim.
Está pronto e feito, como o meu melhor poema
Nem branco nem preto.
Nem real nem ilusão.
Um grande amuleto da palavra são.

Madre disse...

O Tijolo é brilhante por natureza.
Por ser escrito por sua mãos mágicas. Sensibilidade à flor da pele!